11 de abr. de 2010

Incandescente - Incansubinte



Passava das duas da manhã, e apesar de o outono mais gelado do que o de costume amedrontar a maioria das pessoas, ele cambaleava pelas ruas. Mas tinha destino. Arthur era loiro, olhos azuis penetrantes, corpo atlético levemente descuidado, barbas sempre feitas, pele oleosa e nariz adunco, lábios finos e bem desenhados. O que mais chamava a atenção, no entanto, era sua forma de caminhar. Era notado sempre, fosse qual fosse o lugar onde estivesse. Resumindo, o nome não remetia a um grande Rei à toa: Arthur tinha potencial.


As ruas estavam desertas, e uns poucos homens saíam dos poucos bares ainda abertos naquela madrugada de quinta-feira. Um vento gélido percorria as calçadas, trazendo o montante de folhas secas caídas com o decorrer do dia, enquanto uma umidade perceptível no ar indicava que, em algum lugar perto dali, havia chuva chegando. Arthur puxou o agasalho para junto de si, enfiou as mãos nos bolsos, e continuou seguindo seu caminho rumo à casa da esquina. Mantinha o cigarro preso entre os lábios, soprando a fumaça com uma graça inconfundível: fumar desde os quinze anos conferira-lhe certa habilidade naquilo, e ele constantemente se gabava. Era um pouco metido, na verdade.


Ele encontrou a casa, enfiou as chaves com dificuldade na fechadura, abriu o portão e entrou, tateando as paredes laterais para acender a luz.


A luz foi acesa e lá estava ela, sentada no sofá com os olhos ainda inchados. Rebecca conservava-se ao lado da lareira, meias grossas cobrindo os pequenos pés, o bonito rosto virando-se lentamente na direção da porta que se abrira.


- Você tem certeza mesmo dessa decisão, Beck? - Ele perguntou, a primeira coisa que disse quando a viu. Tinha jurado a si mesmo que não insistiria mais, e mantinha uma das mãos na maçaneta, enquanto aguardava ansiosamente a resposta. Suas mãos suavam e tremiam levemente, e seu coração pulava mais do que o normal dentro do peito.


- Acho que sim... - Ela respondeu. O cheiro de bebida e cigarro era sentido facilmente quilômetros de distância pela garota, e isso fez com que ela ficasse ainda mais tendenciosa a querer realmente aquela separação. Olhou Arthur de cima abaixo, não conseguindo esconder certo desejo daquele homem que tanto amava, mas que tanto a machucava. Ela sabia que não era culpa dele, mas como explicar isso ao coração? Ficar com ele a estava matando, e ela decidira pouco tempo atrás a dar um fim naquilo tudo. O problema foi que três horas sem ele já a fizeram repensar. Tudo bem em ficarem separados, mas o que fazer com o amor que subsistia?


Ele, bom leitor de mentes que era, entrou de vez no hall com a cabeça baixa e fechou a porta atrás de si. Caminhou decididamente para perto dela, e chegou muito perto. Foi quando a levantou pelo braço que ela viu no rosto dele o desejo, e entendeu. Ele jogou-a no chão como um macho trata uma fêmea, e aquele chão de hall de repente se transformou. Ambos tiravam suas roupas trôpegos, enquanto um novo odor se misturava ao álcool e ao cigarro. Cheiro de excitação, suor e desejo; o amor estava presente, mas quase não teve vez ante tanto sentimento. Ela mordia como se fosse o último ato de sua vida. Ele apertava como se ela fosse a última mulher de sua vida. Entrelaçaram os corpos atônitos, as chamas da lareira incendiando ainda mais aquela união, enquanto ele a beijava ardentemente. Tudo ardia naquela sala. Palavras foram dispensadas por gestos, e os gestos diziam tudo.


~


Ela acordou letárgica, atordoada sem saber o que acontecera. Copos quebrados e garrafas na mesa de centro, roupas rasgadas e os seios descobertos. Apenas uma réstia de luz brilhava na lareira, que ainda aquecia. Braços fortes envolvendo-a febrilmente. E pensou que o chão do Hall nunca fora tão aconchegante.

- Thuan B. Carvalho

Um comentário:

  1. Irmão você está escrevendo bem demais.
    Digamos que com uma dose extra de romantismo que pode até enjoar algumas pessoas... auhauhua ;) Te amo.

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