16 de set. de 2010

regnad, noisop.

É cedo e meu coração explode veneno

Cada veia pulsa epilética

Trazendo um gosto amargo do meu corpo

E cada artéria deixa, extasiada, meu coração

Carregadas da sinfonia sádica que de lá soa

“Amor bandido cachorro trem!”

Meu coração é bandido, ele às vezes se cala

E deixa minha mente resolver a situação

É isso o que me faz chegar mais cedo em casa

E não despertar você de um sonho bom

Pra dizer contrariado que estou sofrendo de amor

“Que o teu afeto me afetou é fato agora faça-me o favor!”

Não posso dizer que estou escrevendo

Na verdade essas letras são puras peçonhas

Invadindo o coração de cada qual quem as lê

E dividindo as toxinas que entorpecem meu corpo

Roto; barulhento; insalubre; árduo, arde.

“É ferida que dói e não se sente”?

Tomara que eu não esteja errado

Por agir assim, tão doador universal

Poupando sempre você das próprias faltas

Que eu nem sei se realmente as são

Mas devem ser senão por que me fariam mal?

É que eu não quero fazer de você a toalha

Que vai enxugar essas lágrimas tóxicas

Que você mesmo derrama através de meus olhos

Passo a tentar enxugar tais lágrimas com poesia

Mas elas corroem minhas palavras, lentamente

E deixo você ver amanhecer o dia

Na companhia dos lençóis, somente.

Thuan B. Carvalho

13 de set. de 2010

Prólogo da Guerra



Os sinos já badalam, chega a hora

De provar para os antigos a coragem

E aqueles que o medo da morte já devora

E aqueles cujo peito ainda chora

São a morte anunciando sua passagem




Flechas pintam o céu negro de vermelho

Silvando pontiagudas entre os ossos

E olhar para a frente é olhar num espelho

Em cada olhar a sombra firme de um guerreiro

No duelo contumaz daqueles povos




Os cavalos, amedrontados, relinchando

A cada ferida um grito de cortar

E devagar os cavaleiros se desmontando

A lança em punhos, a voz sempre bradando

A magia da batalha está no ar.

As mulheres, em suas casas, a rezar

Vão sentindo o coração se apertando

E o máximo que podem fazer é esperar

Ouvindo a morte em seus ouvidos sussurrar

Ao ver o fogo da batalha se apagando




Nada mais resta, além de corpos no chão

E o sino que ainda badala lentamente.

Aos guerreiros heróicos, o perdão

Quem restou os esfaqueia o coração

Concedendo-lhes uma morte mais decente

O povo vitorioso ergue sua bandeira

O orgulho invadindo os corações

Mas já receia outro ataque na fronteira

E vai fechando suas portas de madeira

Recarregando de flechas seus arpões




E a morte, que nada tem com aquilo

Vai colhendo os cacos da matança

Esperta, esgueira feito esquilo

Fria, pesa os corpos: quilo a quilo

Faz da guerra brincadeira de criança.



~ Thuan B. Carvalho

Sobre a Abstração

Vento vida voe

Pronde a proa aponte

Siga sozinho sua sina

Traça tua trilha

Haverá de haver um horizonte

 

doe

conte,

menina.

                  Ilha

       ponte.

 

Thuan B. Carvalho

4 de set. de 2010

HCl


Quero transitar num mundo caduco

De olhares etéreos e insatisfeitos

Quero do sangue de meus ancestrais

Suco.


Quero ser a pedra no seu caminho

A corda no pescoço

E quando você tropeçar

Fosso.


Erguer-me-ei de sua desgraça

Cuspirei em todos os epitáfios

E minha gargalhada nem soará

Sem-graça.


Cobiçarei sua mulher, próximo

Trapacearei em seu jogo inútil

E jamais me desculparei por ser tão

Fútil.


Serei tão vil e sem pudor

Que quando em flor

Mulher;

Desabrocharás em mal’mequer.



~ Thuan B. Carvalho