17 de set. de 2011

não chores mais, não.



(...) mas princesa, não chores não;
Que teu choro me parte, me quebra
Transforma meu pássaro em pedra
E sufoca.

Ei, amor, não chores não;
Que teu choro é o prelúdio da morte
É o som de uma faca no corte
E corta.

Vida, por favor, não chores não;
Que teu sorriso é a prece que rogo
Em teu choro eu somente me afogo
E me ardo.

Mas paixão, não chores mais não;
Que tua lágrima é dos venenos o mais mortal
Em contato com o ar me é letal
E castiga.

Ei, existência, não chores não;
Que teu choro molha os dias nefastos
Faz babel, interrompem-se os astros
E me rasga.

Sereia, por favor, não chores não;
Que teu choro é o meu mortuário
É o som que me lembra do horário
Um nocaute.


Psiu, mulher, não chores não;
Que teu choro me lança da ponte
É a água que escorre da fonte
E não sacia.

Mas deusa, por favor, não chores mais não;
Que teu sorriso é o sinal que me ala
E cada lágrima que teu olhar exala
Me aproxima do chão.






Thuan Bigonha de Carvalho.

2 de set. de 2011

A Mulher Tinteiro



Vem sem medo, insólita, e em sua expiração carrega a certeza de que, ato próximo, inspirará. Não se confunde jamais, líquido heterogêneo de uma mistura que, por mais materialmente separada que possa parecer, é monofásica.


Possui quatro fases, essa personificação lunar: Percorre a terra, durante o princípio do dia, com seu corpo ardente e inconstante, varrendo o choro das crianças e trazendo o amanhecer aos olhos dos animais; Extenuada, dorme e afoga seus cabelos no mar durante a tarde fresca, tornando-se a si um cardume de emoções que, pesadamente, baqueia o fundo do oceano e ilumina a profundeza de além-mar; Seu instante é breve, e tão logo laqueou as órbitas, resplandece num vôo clamando combate, exigindo do crepúsculo mais atitude do que - como ela mesma diz - “simplesmente levar o sol e trazer a lua”, rasando pelos confins da Terra e de todas as Terras, pintando estrelas no céu de todos os reinos com a energia que jamais lhe desampara; Até que então, fase derradeira, suspira e já não é mais suspiro, desabrocha o sentimento que já não tem, resume a madrugada em silêncio e colóquio, e os pássaros que não ouvimos na alvorada - são todos ela - espectro sublime, enobrecendo o sono do mundo com a ária que deriva do farfalhar das asas de sua alma.


Anormal, atípica, irregular, desnivela a ampulheta dos corações dispostos, altera a freqüência do tempo e do espaço, desmantela a noção de gravidade do momento que até então era grave, e que, após sua passagem, flutua entorpecido e pacífico, inativamente agravitacional.



Assim, borralheira e gata, princesa e feiticeira, emoldura minha abstração insípida, contorna meu semblante vago; e chove, no meio desse tornado de emoções sobrepostas, nada mais do que a certeza de que é ela a cor que dá aspecto aos versos que rabisco.




Thuan Bigonha de Carvalho.