5 de mai. de 2013

Sagrada Escritura

Eu queria escrever um documento
Que livrasse o mundo de todo tormento
Como uma ode, uma epopeia ou poesia 
(e não tolerasse alguém em desalento
Nem por mais um dia).

Eu queria pôr amor em cada letra
Que, se lida, pela alma já penetra
Em bambos toques de não realidade
(e a força que essa prosa impetra
há de alentar nossa felicidade).

Eu queria ser deus para os ateus
Um holocausto feito por judeus
Madalena apedrejando Jesus
(e a todo culto, enfim, dizer adeus
revelando-lhes a verdadeira luz).

Então num belo dia ao acordar
A voz da vida veio me chamar
Pr’ouvir o que ela canta o tempo inteiro
(e ali, estatelado, a escutar
perdi-me qual agulha no palheiro).

Vento, flor, céu, mel, zunido de abelha
Mão, nariz, olho, boca, orelha
A vida é uma eterna adequação
(e da percepção veio a centelha
que ateou fogo ao pé do coração).

E das compreensões - a favorita
Tal poesia já se encontra escrita
No Amor e sua eterna infinitude.
(e documentos dão falsa guarita
- é nos olhos de minha senhorita -
que Ele me encontra assaz e amiúde).




Thuan Carvalho.

2 de mai. de 2013

Manoelizando a Rotina



Extasiado, arrebatado, engolido -
sou todas as derivações do arrepio dos pássaros
sob quatro sétimos de uma Lua mole
tentando tirar as letras
para dançar;
Outono tem cheiro de árvore com alaranjado,
me disse outrora um pássaro
sem se arrepiar
- e quando me inspiro
sou obrigado
a concordar;

A madrugada usa a escrita com delicada miopia
quanto mais longe - como saudade, passado, fotografia -
mais amuada a poesia;

Quando amanhece, o Sol deixa as letras oculadas...

(mas arrepiante mesmo é como as corujas se parecem com as palavras.)


Thuan Carvalho.