9 de abr. de 2012

O Abrir de Abril


Abril. Abriu. Abril. Abriu. ...

Abriu-se. O trinco pende de lado, opaco. Havia ali antes uma porta? Não saberia dizer. O cheiro de mofo intrínseco à madeira sugeria velhice. As cores inerentes ao arabesco em sua maçaneta sugeriam juventude. Cedo ou tarde, era tempo de atravessar. Olhos abertos. Respiração lenta. Força. Coragem. Suor e lágrimas.

Folhas, muitas delas. Caídas. Arrancadas. Leves e secas. Vermelhas. O Verão passou por ali, pensou. Árvores nuas. Despidas de si. Paredes acinzentadas, construídas por pequenos ramos disformes de galhos. Não, espera... Na verdade são... palavras? Palavras de todas as classes e gêneros. A composição do local era a página de um livro borrada. Palavras. Outrora lhe disseram tanto!

Sentou-se. Vazio. Onde é que estava o silêncio? Em seu ouvido zumbiam a algazarra de mil vozes. Vozes. Vozes. Palavras. Nenhum acorde. Cordas grossas passavam por todos os lados. Cordas vocais que transportavam uma espécie de líquido. Opaco. Vazio.

Súbito. Arrojo. Ímpeto. Mãos puxavam cordas. Unhas descascavam palavras. Rasgou todas as letras. Engoliu algumas, cuspiu outras. Destroçou incessantemente. O local começou a se revelar. Paredes tão vermelhas quanto poderiam ser. Um piso pulsante como um vulcão. E quente. Um calor imenso começou a preencher o local.

Num único rompante, rompeu o instante.

A pureza o tocou. Esvaziou-se de palavras. Dali para frente, seriam ações. Revigorava-se. Vigor. Energia. Sangue. Calor. Sentidos. Coração.

Satisfeito e coberto de sangue, deixou apenas encostada a porta que se Abril.  


Thuan Bigonha de Carvalho