28 de ago. de 2014

Papéis In versos

O mundo é uma caixa de surpresas, Maria,
e hoje seremos escritos
pela impiedosa pena da poesia,
A água há de nos beber a fronte
insaciável; e então
nossos traços serão linhas do horizonte.

De tanto bater cabeças
o fogo nos acenderá
e assim, glutão, há de nos ver queimar,
A terra, quente e macia
se enterrará em nós
e de ventar seremos grãos a sós.

Seremos, incontestáveis,
melhores amigos do homem
pois que pra ser assim só sendo avesso,
Os pássaros nos alimentarão
se acaso em assobio chamem
e isso, ó Maria, é só o começo!

Prender-nos-ão numa gaiola
[pra que cantemos, não se esqueça]
famílias e famílias de canários,
enquanto árvores navalham
de nosso tronco até a cabeça
a sorte de seus corações involuntários.



Thuan Carvalho.

25 de ago. de 2014

Iluminescência

A primeira luz da manhã
escreve teu nome
com letras douradas
nas varandas, nas sacadas
em mim.

A primeira luz da noite
reflete teu corpo
em raios de prata
feito valsa, serenata
em nós.

A terceira
que é fruto
do teu gemido

Ilumina
o mundo inteiro
de ouvido.


Thuan Carvalho.

Arte: Niko Guido

14 de ago. de 2014

Toda Olvido

Escuta o passado
o som do chicote
a pressa no trote
de quem, a pinote
me fez de mascote
e tentou me domar,

Escuta calado
o olho no olho
sem dente por dente
cavalo de raça,
não vou achar graça
se o som te chocar,

Aceita o presente
meu tão dolorido
contuso, ferido
meu leso gemido
que do meu ouvido
eu quero olvidar.


Thuan Carvalho

*arte: Giuseppe Mastromatteo