15 de fev. de 2011

Valsa em cores.


Quando ela me vem, alva

meatropelameafoba e seduz,

Me tira da solidão, me salva

e caminha de volta para a luz.


Vem tão branca que a Lua se ouriça

ao ver concorrente à altura

Então ela, ávida, se espreguiça

mas não consegue atingir tal candura.


E se ela aparece amarela

contra a sombra da minha janela

nem assim o medo me desperta.

Pois qualquer cor pode ser a cor dela

camaleão que fugiu d’uma tela

e me espia da cortina entreaberta.


E se negra ela vem, ao crepúsculo

dou-lhe astros e estrelas-cadentes

O estupor me retesa o músculo

e as noites se fazem mais quentes


E tão bem ela se porta de céu

que, intrigado, fico a pensar:

Seria o detalhe negro do chapéu

sua pele a se prolongar?


N’outro instante ela gira e é morena

caminhando ao chacoalhar da melena

pele jambo de sol e de sal

E na minha direção vem, serena

estendendo sua mão tão pequena

um segundo de eterno carnaval.


Thuan B. Carvalho

10 de fev. de 2011

Você acredita?


- Pronto general, vencemos! Agora voltaremos em paz para nossa terra, vitoriosos, ao braço de nossa família! - proferiu entusiasmado o soldado.


- Errado, soldado. Estamos apenas começando. Vencemos essa batalha, mas pelo visto teremos outras pela frente. - retrucou sorridente o general, tocando o leme do navio em que estavam.


- Mas general. Já conseguimos o que queríamos. Só haverá mais guerra se quisermos. E sobre o discurso de paz? - indagou o soldado, contrariado.


- Bom, foi realmente um discurso motivante. Eu quase acreditei nas minhas palavras. Mas responda, soldado. Intimamente: você acreditou? Você realmente acredita na paz? Acredita que algum dia pararemos de guerrear, pararemos de querer um pouco mais, deixaremos que a humildade freie a ganância? OLHE PARA MIM, SOLDADO! Você se imagina num mundo alegre, onde as pessoas se cumprimentam, onde a tristeza é passageira, onde não existe a guerra e a paz reina? ESSE MUNDO NÃO EXISTE, SOLDADO! Agora responda, RESPONDA! O que importa mais, uma condecoração momentânea, um sopro de poder sobre seus ombros, ou a paz? O príncipe nos receberá com festa, o mundo inteiro saberá nosso nome. Somos os homens que sobreviveram. E nas próximas guerras, todos nos temerão. Continuaremos essa guerra para sempre, tomando, quem sabe, todas as terras do mundo! Será uma guerra contra o mundo! É assim que funciona a mente de um general. Por isso você é soldado e não eu. Eu penso alto. Eu sei lidar com momentos de vitória e derrota. Então reflita, soldado. Reflita bastante, e responda: VOCÊ OUSA ACREDITAR NA PAZ?


Mas o soldado já havia refletido.


Retirou tranqüilo uma granada que sobrara de seu colete, e ergueu-a no ar. Retirou o pino como se aquilo fosse a coisa mais calma do mundo; e, antes de soltá-la sobre o navio e destruir tudo e todos os que haviam restado da guerra, sussurrou:


- Sim, eu acredito.



Thuan B. Carvalho