4 de ago. de 2011

A Terra em que é Proibido Sofrer




Na terra em que é proibido sofrer, a morte vem a cavalo.
As placas nas cidades dão bom-dia e boa-noite, e indicam o melhor lugar para se sentar sob uma fresca e prazerosa sombra. Os dias muito quentes e muito frios passam rápido, assim como os dias de saudade; enquanto os dias agradáveis passam lentos - um pássaro que plana numa tarde de segunda-feira.

Na terra em que é proibido sofrer, a idade é experiência.
Não há chá que não cure, não há raça que não se misture, nem amor que não dure. Lá, de madrugada, é possível ouvir o som do mundo, sua leve respiração enquanto adormece lentamente, entrecortada de quando em vez pelo pio de uma coruja.
(reza a lenda que quem faz amor de madrugada na terra em que é proibido sofrer ouve os sons de um mundo diferente, mas isso é só uma lenda.)

Na terra em que é proibido sofrer, os sinais são de esperança.

Quem espera sempre alcança, todo mundo indé criança, e a vingança não passa de um prato que não se come nunca. O planeta gira ao contrário, o pesar é imaginário, e hospitais são canários que devolvem a alma ao infinito.

Reis, magos, bruxas, anões, dragões, gnomos, cavaleiros, amazonas, duendes, elfos e anciãos já se perderam incontáveis vezes ao procurar a terra em que é proibido sofrer; sem saber que ela não passa de um X incrustado no mapa da alma de cada um.
Ou seja, para encontrar a terra em que é proibido sofrer, basta encontrar a si.







Thuan Bigonha de Carvalho

Afinal, quanto custa?



Um choro de saudade,
Um sopro de verdade,
Andar pela cidade; quanto custa?
Amor na flor da idade,
Chuva de fim de tarde,
Tensão que mansa invade - e que assusta!
Quanto custa?
Um pingo de piedade,
Boiar sem densidade,
Ser a própria gravidade! Quanto custa?
Diz! Quanto custa?!
Que eu vendo a mocidade,
Leilôo a tempestade,
Dispenso a qualidade, tão fajuta!
Depeno essa maldade,
Transbordo de bondade,
Encaro a cristandade - vou à luta!

E se acaso, dia funesto
Seu Deus, quão desonesto!
Quiser a minha vida
Por achar a troca injusta;
Darei-a, não interessa
Para o amor não terei pressa
Se me for respondido
Quanto custa.


Thuan Bigonha de Carvalho