14 de mar. de 2013

Poiésis


Que hoje o moderado seja parco
e atinja cada flecha o próprio arco,
Que hoje o falador seja loquaz
mas faça o silêncio que ninguém faz;

Que hoje o fim seja fenecimento
dando ao ponto do verso um elemento,
e ainda hoje o simples seja frugal
mesmo que no sentido literal;

Que hoje a troca passe a ser permuta
e de penas na mão, vamos à luta!
e que criança passe a ser petiz
versando alegre em seu próprio nariz;

Que hoje o esperto seja ardiloso
tornando-se das palavras fiel esposo,
e que avermelhado seja rubicundo
arrebatando em poesia o mundo.

Afinal, com que mais hoje há de rimar o dia,
Senão com a doce e indelicada poesia?


Thuan Carvalho,
em homenagem ao Dia da Poesia.

7 de mar. de 2013

Morre quem dá Ibope, não nasce ninguém.



Morre quem dá Ibope e não nasce ninguém.

A morte morreu ontem
morre hoje
e continua,
morte mansinha
que é minha
e sua;

Morrem bedéis
dragões
e reis,
morrem em bordéis
galpões
sem leis;

Alheios e vendados, seguimos
indiferentes a qualquer morte real,
cultuando a vida da casca que construímos
extasiados de extermínio virtual

(mas o pranto continua no hospital:
"nasceu chorão meu filho que não tem nome
e ao chorar, se engasgou com a própria fome
nasceu formoso, ia se chamar Brasil
eu quis salvá-lo, mas ao gritar, ninguém ouviu.")


Thuan Carvalho.