28 de mar. de 2011

A luz na janela


Caminhava sem pressa numa tarde fria


A paz acossava de forma que eu ria


Estava tão só que eu nem sei se existia


Da luz da janela acesa eu a via.




Sem pestanejar, ela se despia


Girava, dançava e se sacudia


O drama em seus olhos, latente, doía


Da luz da janela a lágrima escorria.




Eu me perguntava: aonde ela ia?


Qual era o motivo que a impelia?


Solitária como eu, mas não se escondia!


Da luz da janela ela me confundia.




Ela me encarou, criador e a cria


Por trás de seus olhos a alma gania


De pronto içou vôo, perfeita poesia


A luz da janela lenta se esvaía




Então penetrou na frieza tardia


Seu doce sorriso de longe se ouvia


Compreensão me tocou; existiu - foi magia


E a luz se apagou (mas eu incandescia).


Thuan Bigonha de Carvalho

24 de mar. de 2011

Paulo Paulatino


Esse senhor que não vê minha pressa

Como pode lentidão como essa

Ante a vida que ruge entre nós?

Tento então, ágil, me esquivar

Mas meu caminho ele torna a fechar

Num gingado tal qual valsa a sós.



Vejo assim, como única opção

Dessa minha enorme pressa abrir mão

E a passos lentos fico a observá-lo;

E quando estou acompanhando seu ritmo

Sinto algo se alterando em meu íntimo

De modo que abismado eu me calo.



O sol incide em seus brancos cabelos

O impacto ouriça-me os pêlos

A realidade me fura como espinho;

E ao mirar a sombra daquela imagem

Ainda não sei se concreta ou miragem

Reparo que o senhor não vai sozinho.



O tempo vai caminhando consigo

Ele até o chama de amigo

Afinal, quanta intimidade!

E o chão TOCTOCando a bengala

Lento como o bocejo que se exala

Enquanto Paulo Paulatinava a cidade.


Thuan B. de Carvalho

2 de mar. de 2011

Equilíbrio dos Mundos.


O ar trancafiado nos pulmões, por um breve instante, e depois sendo solto com desenvoltura invejável.



Aquele era um movimento constante naquela fração de segundo em que o equilibrista içava seu corpo galgaz para frente, cobrindo cada vez uma parte maior da pequena corda bamba sobre a qual caminhava.

A respiração, que fluía em seu corpo como bolero, era movimento raro na platéia. As pessoas encaravam aquele desafio às leis da gravidade com tamanha perplexidade que nem sequer se davam conta de inalar o ar ambiente, mistura homogênea de suspense, apreensão e paz.

E o artista seguia, pé ante pé, com maestria. E recebia aquela sensação conhecida, que só tal adrenalina era capaz de produzir. Nascera para aquilo.


Era como se sua existência fosse justificada. Atrevia-se a fechar os olhos, e deixar o corpo seguir, enquanto o sentimento de êxtase dominava seu corpo e acolhia sua alma. E então ele a ouvia.


O vazio era preenchido por sussurros em sua mente, que ele sabia ser de si. Eram afagos e suspiros satisfeitos misturados com aplausos alegres. Experimentava a ligação entre os mundos, e a abraçava como aquela experiência merecia.



E dentre os cem membros da platéia, apenas as vinte e seis crianças menores de quatro anos e aquela senhora de sobretudo verde conseguiam ver que, o que na verdade amparava o artista por sobre aquele pequeno fio da vida, não era o seu equilíbrio; e sim suas enormes, saudáveis e coloridas asas.



Thuan B. Carvalho