9 de fev. de 2010

Quotidiano II - Milésimo de Segundo da Eternidade



Ele passava no passeio da praça. Ela, vinha no passeio contrário. A contramão do amor.



Foi quando os olhares se encontraram.



Ele fixou seus olhos nos dela, e o ambiente urbano voou para longe, como num filme de ficção, trazendo para si uma praia deserta. Ele Adão e ela Eva; os únicos seres na face da Terra. Imaginou o signo do amor da sua vida, se combinaria com seus sonhos aquarianos. Pensou se ela gostaria de guerra de travesseiros numa manhã de domingo, quando acordassem embebidos de amor e álcool. Imaginou-a entrando consigo num restaurante formal mineiro, onde seriam os únicos na pista a dançarem enquanto os outros jantavam. Viu perfeitamente ambos andando de mãos dadas no calçadão da cidade, enquanto ele carregava a filha dos dois nos ombros. Quase chegou a perguntar com o olhar se ela gostaria de presentes feitos à mão, de sítio, de praia, de família, de piadas, de advogados, de surpresas, de viagens, de amor...


Ela olhava aquele rapaz que a encarava. Tinha um “quê” que a atraía. Pelas roupas que usava, apostaria tudo como tinha mau gosto para escolher sua combinação. Chegou a ver a mãe do rapaz escolhendo as roupas para ele vestir, e armou um sorriso de canto de boca. Os óculos até conferiam um ar intelectual, e ela pensou se ele estudava, se garantiria um bom futuro aos seus filhos. Barbas mal feitas agradavam-na. Sem piscar os olhos, pensou que ele seria uma ótima companhia para tomar um açaí na beira da praia, que parecia ser do tipo de caras que surpreendiam, e que talvez fosse ser um ótimo pai. Pai dos filhos dela, quem sabe? Ruborizou levemente com o pensamento e conseguiu, inexplicavelmente, balançar a cabeça para afastar o pensamento sem que seus olhos se desviassem dos dele.



E quando se cruzaram...


Simplesmente continuaram a andar, deixando que a timidez e a covardia superassem a vontade daqueles corpos de se unirem. E foi essa troca de olhares o chamado “milésimo de segundo da eternidade” em que mais duas almas deixaram de se satisfazer.





Thuan B. Carvalho

Um comentário:

  1. Faltam palavras, sobram sorrisos encantados com a escrita e suspiros reconhecederes da realidade!

    Um encanto de escrita!

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