9 de jul. de 2012

Esotérica.


Fechou os olhos, consternada, e rolou novamente os búzios por sobre a mesa...

O movimento daquela vez fora diferente. A graciosidade envolvida superou qualquer lance anterior. Ambos os braços em concha, dois suspiros, os olhos fechados, narinas dilatadas, a boca numa prece silenciosa, e as pernas cruzadas numa prece inconsciente. O movimento com o pulso fez as tranças balançarem como se dançassem junto à fumaça que provinha dos incensos. Três incensos. Três lamparinas.


O pio da coruja foi trazido por uma coluna de vento que se arrastou molemente pela janela entreaberta, emprestando segredos os mais diversos ao ambiente, deitando contornos finais ao ato. 

Pensou em suicídio quando abriu os olhos, levantou-se, e, pela terceira vez naquela noite, encarou o rosto dele lançando luz àquela penumbra com seus olhos de amêndoa estrelada.



Nádja acordou com as mãos formigando, e a imagem retorcida de um homem que lhe parecia familiar povoando sua mente.

 Amaldiçoou seu sangue cigano, deu um beijo seco no marido e saiu para trabalhar.




Thuan B. Carvalho

2 comentários:

  1. Fantástico! Excelente texto. Gosto muito das imagens criadas, da linguagem poética, do mistério envolvente. E tudo termina na crueza de um "beijo seco" e um tapa da realidade. Muito, muito bom!!

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