2 de mar. de 2011

Equilíbrio dos Mundos.


O ar trancafiado nos pulmões, por um breve instante, e depois sendo solto com desenvoltura invejável.



Aquele era um movimento constante naquela fração de segundo em que o equilibrista içava seu corpo galgaz para frente, cobrindo cada vez uma parte maior da pequena corda bamba sobre a qual caminhava.

A respiração, que fluía em seu corpo como bolero, era movimento raro na platéia. As pessoas encaravam aquele desafio às leis da gravidade com tamanha perplexidade que nem sequer se davam conta de inalar o ar ambiente, mistura homogênea de suspense, apreensão e paz.

E o artista seguia, pé ante pé, com maestria. E recebia aquela sensação conhecida, que só tal adrenalina era capaz de produzir. Nascera para aquilo.


Era como se sua existência fosse justificada. Atrevia-se a fechar os olhos, e deixar o corpo seguir, enquanto o sentimento de êxtase dominava seu corpo e acolhia sua alma. E então ele a ouvia.


O vazio era preenchido por sussurros em sua mente, que ele sabia ser de si. Eram afagos e suspiros satisfeitos misturados com aplausos alegres. Experimentava a ligação entre os mundos, e a abraçava como aquela experiência merecia.



E dentre os cem membros da platéia, apenas as vinte e seis crianças menores de quatro anos e aquela senhora de sobretudo verde conseguiam ver que, o que na verdade amparava o artista por sobre aquele pequeno fio da vida, não era o seu equilíbrio; e sim suas enormes, saudáveis e coloridas asas.



Thuan B. Carvalho

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