30 de jan. de 2011

Sem lenço e sem documento.


Caminhavam não se sabia há quanto tempo. Só se sabia que caminhavam; e que não se falavam.


O sol subia paulatino sobre a linha do horizonte enquanto as nuvens, que trouxeram o negror da noite de outrora, desfaziam-se levemente naquela agradável alvorada litorânea. Caminhavam um ao lado do outro, deixando as pegadas frescas na areia, que as ondas leves tratavam de apagar no instante seguinte. A água trazia-lhes uma sensação agradável aos pés, enquanto procuravam conchas. É, isso mesmo. Conchas.

Ela vinha à frente, agachando-se de hora em outra, e levantando-se em seguida com um punhado de pequenas conchas nas mãos. Ele vinha sempre dois passos atrás, trazendo um pequeno balde, onde depositava as conchas que ela lhe passava.

O único toque dos dois, durante todo o percurso, era aquele. Mãos sobre mãos, passando as conchas. E não se falavam. Desde que começaram a caminhar, naquela espécie de ritual, eles sequer se olhavam. Tinham as mentes vazias, os olhos perdidos entre tanta beleza mundana, e os pés pareciam caminhar sozinhos.

E lentamente o balde ia se enchendo de conchas, e todas pareciam seguir um mesmo padrão: eram diferentes.

E assim o tempo foi passando. O sol já havia expurgado qualquer nuvem do céu, que parecia refletir o mar de tão azul. E ambos caminhavam. Intrigante. Não diziam nada.


Então o balde se encheu, eles se olharam, sorriram, e se beijaram. E foi como se tudo já houvesse sido dito.


Thuan B. de Carvalho

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