10 de jan. de 2011

Nem tão certo, quanto o calor do fogo.


Dali de cima, a vista era tão quente quanto se poderia ser. Seus olhos curiosos percorriam cada esquina da pequena cidade que se lhe abria de sobre a sacada de seu apartamento módico na segunda avenida. Uma brisa quente transpassava-o, enquanto seu cotovelo esquentava a cada minuto sobre a pedra mal construída na beira da sacada.


Lá em baixo, lá onde a vida acontecia, o reflexo do sol incandescia pelo vidro dos carros, dando a impressão de que o calor era três vezes maior do que o era na verdade. E estava quente. Quente ao ponto de todos os pássaros que sobrevoavam aquele céu denso abrigarem-se sob uma enorme mangueira no centro da praça. Ali onde a vista alcançava, ele viu uma mãe carregar o filho de pés descalços no colo pelo asfalto, poupando-lhe as futuras e infalíveis bolhas.


A moça caminhava torpe, buscando a sombra das marquises, e o calor fez suas roupas tão curtas, que afoguearam os olhos do rapaz de sobre a sacada.


Seus olhos ardiam, seu cotovelo se abrasava, seu ombro inflamava, seus cabelos começavam a ficar mais claros, os pés guinchavam, os carros incendiavam, os pássaros conflagravam; e era impressionante como nada daquilo - nada daquela dança do fogo ao redor do astro-rei, nada daquela miragem da porta do inferno, nada daquele calor que consumia seu corpo - conseguia aquecer seu coração.


Thuan B. Carvalho

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