Os sinos já badalam, chega a hora
De provar para os antigos a coragem
E aqueles que o medo da morte já devora
E aqueles cujo peito ainda chora
São a morte anunciando sua passagem
Flechas pintam o céu negro de vermelho
Silvando pontiagudas entre os ossos
E olhar para a frente é olhar num espelho
Em cada olhar a sombra firme de um guerreiro
No duelo contumaz daqueles povos
Os cavalos, amedrontados, relinchando
A cada ferida um grito de cortar
E devagar os cavaleiros se desmontando
A lança em punhos, a voz sempre bradando
A magia da batalha está no ar.
As mulheres, em suas casas, a rezar
Vão sentindo o coração se apertando
E o máximo que podem fazer é esperar
Ouvindo a morte em seus ouvidos sussurrar
Ao ver o fogo da batalha se apagando
Nada mais resta, além de corpos no chão
E o sino que ainda badala lentamente.
Aos guerreiros heróicos, o perdão
Quem restou os esfaqueia o coração
Concedendo-lhes uma morte mais decente
O povo vitorioso ergue sua bandeira
O orgulho invadindo os corações
Mas já receia outro ataque na fronteira
E vai fechando suas portas de madeira
Recarregando de flechas seus arpões
E a morte, que nada tem com aquilo
Vai colhendo os cacos da matança
Esperta, esgueira feito esquilo
Fria, pesa os corpos: quilo a quilo
Faz da guerra brincadeira de criança.
~ Thuan B. Carvalho
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